À beira-mar, uma arquitetura que combina grandes aberturas, pedras brutas e mashrabiyas interage com os materiais ao redor para estabelecer uma integração completa com a natureza de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Casa Angra é um projeto de renovação de uma residência de verão para clientes que agora residem em um apartamento com interiores também projetados pelo Studio Arthur Casas. O objetivo foi adaptar a casa às necessidades de uma família — um casal com dois filhos — que encontrou a arquitetura original de Fernando Peixoto incompatível com suas necessidades atuais.
Desde o início, a intenção foi repensar a estrutura existente, preservando a integridade do volume original, enquanto se faziam modificações nas fachadas para maximizar as vistas do oceano e da Ilha Grande, um marco local. No interior, o foco estava em criar uma maior conexão e fluxo entre as áreas sociais, já que os clientes gostam de receber família e amigos, e em destacar a paisagem em todos os espaços possíveis. Onde isso não era viável, soluções como rochas brutas existentes, jardins internos, claraboias e pérgolas foram usadas para reiterar a integração com a natureza, desde a luz natural até a vegetação. Essa abordagem garante uma experiência imersiva para o usuário, com texturas para sentir, perspectivas para observar e caminhos para navegar.
O acesso principal é via água. Do píer até a casa, um caminho definido pela paisagismo proposto pelo botânico Ricardo Cardim apresenta espécies nativas que se misturam perfeitamente com a vegetação da Mata Atlântica local. A mesma iniciativa se aplica aos jardins internos, trazendo um toque da floresta nativa para dentro de casa.
O programa arquitetônico está distribuído em cinco níveis escalonados, acomodando o extenso programa sem ocupar uma grande área do terreno. No nível de entrada, estão a piscina, o espaço gourmet, o terraço externo, a adega e três suítes para convidados. Meio andar abaixo estão a academia, sala de jogos, sauna e sala de massagem. O subsolo abriga um cinema profissional com automação e alto-falantes de alto desempenho, o que exigiu um processo complexo de escavação, reforço estrutural e robustas paredes de contenção devido à proximidade com o mar e o lençol freático.
No andar superior, as áreas sociais, privadas e funcionais estão distribuídas ao longo do layout. A área social inclui a sala de estar, a sala de jantar e um terraço ao ar livre para refeições ao ar livre. A área privada conta com a suíte master com espaço para escritório e as suítes das crianças. A área funcional inclui a cozinha, lavanderia e parte dos quartos de funcionários, que também são complementados por um andar intermediário. Finalmente, no nível mais alto da casa, há acesso via o condomínio com garagem para carros. A energia solar com painéis fotovoltaicos permite um aquecimento de água mais sustentável.
Na fachada, pedras brutas provenientes da região desempenham um papel crucial na criação de um diálogo com o declive rochoso. As pedras de tamanhos e tons variados são dispostas horizontalmente e assentadas com argamassa. A madeira também desempenha um papel significativo na materialidade da casa: na fachada com decks, telhados e mashrabiyas (feitos de Accoya, proporcionando tanto privacidade quanto visibilidade para os cômodos); e internamente no piso da área privada, painéis e marcenaria. No restante do piso, é utilizado um modelo de porcelanato desenvolvido pelo Studio para o fabricante italiano Refin. Grandes painéis de vidro permtem a entrada de luz natural e proporcionam permeabilidade visual. Finalmente, o telhado tradicional de telha cerâmica, uma característica do projeto original, combinado com o teto de palha, cria um contraste harmonioso com o visual contemporâneo do edifício.
No design de interiores, Arthur e sua equipe tiveram grande autonomia na seleção das peças. Na tentativa de misturar materiais externos e internos, foram escolhidos artesanatos e obras de arte de renomados artesãos brasileiros, como a Cabeça de Apóstolo de Mestre Nicola, colocada no hall, e materiais como madeira, cerâmicas e palha para complementar o mobiliário de designer.
Peças contemporâneas internacionais (como o sofá Orlando e a chaise Rams de Paola Lenti na área da piscina, e a cadeira Flair’o de B&B Italia no espaço gourmet) e peças nacionais (como a mesa de café NR02 de Lucas Recchia e as poltronas Vidigal de Lattoog na área gourmet) são combinadas com clássicos icônicos (como a Cadeira Zeca de Jorge Zalszupin na mesa de jantar) e até mesmo peças desenhadas pelo próprio Arthur: a mesa Apache, o aparador Ayahuasca, a mesa de café Vieira Souto, e as mesas Quilombo e Lurdes.