No contexto de uma tendência cada vez mais crescente de reativação do parque imobiliário abandonado no centro de Atenas, o apartamento "Ochra" sublinha a necessidade de uma reformulação original no centro da prática arquitetónica contemporânea. Pangrati, onde o apartamento se situa no 4º andar de um edifício de apartamentos dos anos 70, é um dos bairros urbanos mais vibrantes e jovens de Atenas. O proprietário solicitou a renovação do apartamento com um orçamento relativamente baixo, com intervenções mínimas, assegurando simultaneamente que o projeto não carecesse de originalidade ou autenticidade.
Inicialmente, a disposição do apartamento de 70 m2 foi redefinida através da criação de uma ligação funcional entre a cozinha, a sala de jantar, a sala de estar e o escritório. A parede que impunha uma separação rígida entre a cozinha e a sala de jantar foi substituída por uma passagem, facilitando a sinergia funcional dos dois espaços e permitindo a entrada de mais luz natural na área da cozinha, anteriormente confinada.
O mármore de Ioannina, material caraterístico que reveste os pavimentos da cozinha, do corredor e da varanda, bem como as paredes da entrada do edifício, deu o nome ao apartamento devido ao seu tom de cor. Considerado um elemento importante da identidade dos prédios de apartamentos da época, foi preservado e restaurado ao seu estado original. A partir do tom amarelado do mármore de Ioannina, que ocupa o lugar central, construímos toda a identidade cromática do apartamento em torno dele. Ao selecionar uma cor complementar - o verde - e uma cor harmoniosa, o vermelho tijolo, estabelecemos a nova identidade do espaço.
Devido ao orçamento limitado, os armários de cozinha verdes foram complementados com tinta de parede da mesma cor, reduzindo os custos sem afetar a coerência do design. A bancada da cozinha foi revestida com azulejos de pequeno formato num tom que se harmonizava com o mármore Ioannina do pavimento. Os mesmos azulejos foram também utilizados para cobrir a base da coluna central, que foi revelada no seu material original - betão armado - contribuindo assim para a ligação visual do novo espaço em plano aberto.
Procurámos também redefinir os espaços de arrumação e o conceito de "roupeiro" nos quartos, tal como os conhecemos tradicionalmente. Cada quarto assume a sua identidade quer pela cor ocre complementar ou harmoniosa, quer por uma definição única do roupeiro clássico em cada caso.
Num quarto, quebrámos a monotonia de um roupeiro comprido, com quase 3 metros, criando uma reentrância que alberga agora uma secretária com um espelho, que pode ser utilizada tanto para o trabalho como para a preparação pessoal antes de sair. No segundo quarto, mais pequeno, o roupeiro original e volumoso foi substituído por uma peça de mobiliário aberta e multifuncional que serve tanto de arrumação para roupa e sapatos como de mesa de cabeceira para guardar livros ou objectos decorativos, uma vez que a colocação de uma cama de casal não permitia a colocação de mobiliário adicional.
Em ambos os quartos, o mobiliário personalizado integra-se totalmente no espaço, complementado espacialmente pelas cores das paredes correspondentes. A questão dos vazios nos pavimentos que surgiram com a remoção dos antigos roupeiros foi resolvida preenchendo os espaços com os mesmos azulejos de pequeno formato utilizados na bancada da cozinha.
Os pavimentos em parquet dos quartos foram conservados, enquanto que o pavimento da sala de estar, devido ao seu mau estado, foi substituído por um pavimento em madeira. Na sala de estar, as grandes séries de aberturas foram unificadas visualmente com cortinas, o que também ajudou a filtrar a ligação visual com o edifício oposto, localizado a uma distância próxima. O apartamento "Ochra" é um exemplo caraterístico de uma renovação radical e da redefinição da identidade de uma casa com intervenções pequenas mas significativas. Expande as possibilidades de reutilização criativa com um orçamento mais restrito, oferecendo opções mais amplas para reativar o parque imobiliário não utilizado em Atenas.
