Ação urbanística, normalmente de pouca visibilidade e máxima importância, o sistema de canalização e tratamento de esgotos do Programa Integrado Sócio Ambiental – PISA, da Prefeitura Municipal de Porto Alegre - PMPA, em andamento, dá sequência à outros que já há mais de trinta anos, com ações de saneamento e tratamento de efluentes na bacia hidrográfica do estuário Guaíba, envolvendo 40% do território do Rio Grande do Sul, Brasil, além dos ganhos ambientais e sanitários evidentes, devolverão a curto prazo a balneabilidade do rio na capital, com expressivo impacto social.
A etapa atual, composta de sistema de canalização robusta em sub-solo, paralela a margem, desde o Centro Histórico até o Bairro Cristal (7 Km), recebendo contribuições transversais, e subfluvial até a Estação de Tratamento de Efluentes - ETE, no bairro Serraria, dispõe de diversas estações de bombeamento para pressurização da rede, sendo a EBE Cristal, que antecede o trecho subaquático, de aproximadamente 11 Km, a maior delas. O projeto arquitetônico desta estação, no entanto, além de resolver as exigências técnicas inerentes ao programa, objetivou também estruturar equipamento de uso coletivo, agregando espaços de eventos, exposições, belvedere público e idéia de recuperar expressão formal urbana de obras públicas desta natureza, nominada, por exemplo, pela Hidráulica do Moinhos de Vento em Porto Alegre.
As salas gêmeas, uma no pavimento térreo, outra flutuando no nível superior, dão sequencia a exposição e informações sobre o programa de recuperação ambiental do Guaíba, onde a última imagem visível é o próprio através do mirante. A idéia de "infra-arquitetura" finalmente se materializa com sistema formal profundamente armado na solução estrutural da construção, onde as próprias chaminés de equilibrio ancoram os elementos metálicos em balanço, em franco diálogo com as tribunas de Fresnedo Siri, situadas ao lado, as quais o projeto presta tributo.
Trata-se portanto da concepção, adequação arquitetônica e paisagística de equipamento urbano de infra-estrutura, com volume e presença expressivos na paisagem urbana do Bairro Cristal, nas margens do estuário Guaíba, constituído de duas torres de vinte e seis metros e uma torre de doze metros de altura, de base circular, com diâmetro de sete metros e Casa de Bombas. O conjunto é composto pelos seguintes elementos:
1.1. Casa de Bombas – Com esquema funcional, volumetria e implantação determinados significativamente pelos requerimentos dos projetos de engenharia, abrigando a parte mecânica principal da EBE, em diversos volumes e subsolo de seis metros de profundidade, estas edificações foram tratadas com relativa simplicidade, sistema construtivo e acabamentos padronizados pelo DMAE, buscando no entanto, ajustes na estrutura formal de obras precedentes, deste gênero, realizadas pelo órgão, objetivando novo padrão.
1.2. Torres – A partir de diversas hipóteses formais para volumetria geral, o dimensionamento e posicionamento das torres, destinadas a regular o fluxo dos efluentes, foram definidos conjuntamente com os projetos de engenharia. A opção de desmembramento em três cilindros de concreto aparente, favoreceu a proporção visual dos volumes na paisagem, mantendo a capacidade e funcionalidade necessária. Desta maneira a articulação das chaminés com os espaços de uso público foi determinante para o partido adotado.
1.3. Pavimento Térreo Nível 5,30 – Espaço compacto com área para exposições e eventos, recepção para orientação de visitantes, divulgação de material educativo sobre o PISA e meio-ambiente. Deste pavimento, sobrelevado ao nível natural do terreno (5,00m), acessível por rampa desde o exterior, arranca elevador e escada panorâmica para os pavimentos superiores;
1.4. 2° Pavimento Nivel 8,916 – Pavimento situado imediatamente acima do pavimento térreo, com acesso restrito através de escada e elevador, contém sala de apoio, pequena copa e cozinha;
1.5. Nivel 17,396 – Pavimento de serviço com acesso restrito através de escada ou elevador que dá acesso a torre de menor altura através de passarela;
1.6. Mirante – Pavimento de acesso público (nível 24,18), através de escada e elevador, para contemplação da paisagem e atividades complementares às exposições e eventos do pavimento térreo. Este pavimento é coberto e aberto ao exterior com ventilação natural permanente, através do espaçamento entre vidros. Em balanço, o volume metálico do mirante, idêntico ao do térreo, está apoiado na estrutura da escada metálica, que perfura o volume no centro, e suspenso por peças metálicas verticais ancoradas no topo das torres. Desta forma, através da flutuação de elemento importante, iluminado por constelação de luminárias, se intentou estabelecer diálogo formal e tectônico com as Tribunas do Jockey Club do Rio Grande do Sul;
1.7. Nivel 31,00 - Pavimento de acesso restrito, através de escada de serviço, com passarela de ligação entre a cobertura das duas torres altas;
1.8. Circulação Vertical – A escada, ancorada em vigas metálicas que travam todo o conjunto nas torres, teve seus lances subtraídos em um degrau a cada patamar, diminuindo assim a altura dos entrepisos e propiciando o desaprumo da estrutura e plano de fechamento lateral frontal, executado em chapa expandida, de maneira a diminuir sua projeção e permitir a perfuração do mirante até a cobertura, sem interferir na continuidade da transparência deste. O volume do elevador e patamares intermediários foram integralmente construídos com peças metálicas de estrutura e fechamentos, objetivando além de maior velocidade e racionalidade necessária à construção, leveza visual, compondo visualmente junto com a escada, elementos “elásticos esticados¨, unindo cada uma das partes.
Falar de caráter em obra pública é redundante, já que a natureza da obra define sua responsabilidade social e sua representatividade. Falar de forma, no entanto é indispensável. Neste projeto, além da relação visual com os balanços das coberturas do Jockey Club, a circunstancia técnica teve extraordinária determinação, o que ao contrário do pressuposto, contribuiu na solução e no sistema formal adotado recorrente nas abordagens construtivistas do Movimento Moderno.