O Parque Tancredo Neves, com seus 6,3 hectares de área, pode ser pensado como um pequeno fragmento de cidade. Para o definirmos como parque precisamos agregar-lhe algum elemento que o distancie de uma simples praça de equipamentos. Algo que reconstrua o sentido quase idílico do lazer ao natural. Um natural, diga-se, que deve apenas continuar a moldura primeira daquela paisagem, definida pelo mar.


Numa única idéia, pensamos o parque como um contorno, que envolve a orla, como um continuum. Esse contorno sem função específica, que chamaremos de parque, será o lugar do ócio, tão próprio para a contemplação da paisagem, mas é também o que dará o desenho do território, organizando percursos, definindo áreas de sombra, espalhando manchas verdes e construindo a orla.


Propomos a definição de áreas precisas para as funções recreativas e esportivas, imaginando-as como seqüências desenhadas no chão, através de faixas de uso ortogonais à orla. Nessa vontade de um desenho único para toda a gleba, a área reservada ao Centro Esportivo e de Lazer implanta-se com uma clareira geométrica em seu centro. Um desenho que julgamos compatível com a própria característica dos equipamentos aí instalados: campos esportivos, piscinas etc.


A definição espacial foi dada pela orientação dos campos esportivos no quadrante norte sul, que estabeleceu a lógica do desenho complementar do parque. Dessa configuração nasceu o principal elemento agregador do espaço, a passarela suspensa que tem a dupla função de acessibilidade aos principais equipamentos esportivos – Ginásio; arquibancadas e academia de esportes – e também se torna um lugar privilegiado de fruição da paisagem ao redor, ao se colocar a quatro metros do nível solo.

A passarela é o elemento agregador não apenas do espaço de parque, mas de todo o conjunto construído. Faz o papel da rua suspensa e de rua coberta. Uma linha habitável, que percorre o horizonte sem obstruir a vista do mar pela altura do solo. A concentração de equipamentos em sua estrutura: ginásio, academia, arquibancadas, favorece a lógica construtiva, a acessibilidade de público aos eventos diversos e, sobretudo, libera o território para grandes áreas livres seqüenciais, necessárias ao conceito do parque.


Propomos um parque-jardim, um parque orla e um parque esportivo, como um desafio de tornar atraente uma paisagem que é dominada pelo mar, mas que foi subjugada pelas estruturas construídas da cidade: sistema viário, pontes, Terminal Rodoviário. Esperamos para o pequeno recorte de cidade à beira mar um local de vivência privilegiado que ofereça mais do que um equipamento, um desenho que a qualifique.

FICHA TÉCNICA:
LOCAL: Vitória, ES
DATA DO INÍCIO DO PROJETO: 2007
DATA DA CONCLUSÃO DA OBRA: 2012
ÁREA DO TERRENO: 52.798 m2
ÁREA CONSTRUÍDA: 7.992 m2
ARQUITETURA: Spadoni AA – Francisco Spadoni e Tiago de Oliveira Andrade (autores); Carolina Garcia, Fábio Ucella, Mayra Simone dos Santos, Paula Gouvêa e Ricardo Canton (equipe de concurso); Carolina Mina Fukumoto, Emília Falcão Motoki, Fábio Ucella, Fernanda Maeda, Luciano Magno, Miguel Muralha, Nerino Caldo Júnior, Ricardo Canton e Sabrina Chibani (equipe de projeto)
ESTRUTURA: MS Engenharia
FUNDAÇÕES: Solo Fundações
INSTALAÇÕES: MBM Engenharia
ACÚSTICA: Daltrini Granado
PAISAGISMO: Alexandre Spadoni Pereira
COMUNICAÇÃO VISUAL: Lauresto Couto Esher
CONSTRUÇÃO: Construtora Ápia
FOTOS: Tiago de Oliveira Andrade




