Este é um projecto de remodelação de um apartamento na Urbanização do Alto da Barra, na Foz do Tejo, perto de Lisboa. Este bairro, projectado pelo Arquitecto Fernando Silva nos anos 70, é um bom exemplo de uma concretização feliz do Projecto Moderno na arquitectura do quotidiano, incluindo os seus elementos mais distintivos: Blocos isolados posicionados livremente sobre pilotis, janelas horizontais, pré-fabricação da construção, cobertura plana utilizável… Isto é conseguido através de uma organização clara e prática, a facilidade no acesso às garagens subterrâneas que unem os blocos, a qualidade dos espaços verdes exteriores entre os edifícios e a forma como o posicionamento de orientação variável dos vários blocos favorece as vistas interiores para o mar e jardim, evitando a sensação opressiva de repetição Hilberseimeriana, presente em outros projectos do autor.

No interior, não sentimos a necessidade de alterar radicalmente o apartamento, em parte devido às dificuldades em demolir paredes interiores, por se tratar de uma construção de betão em “túnel”, e, em parte por considerarmos correcta a organização existente. As principais alterações foram a integração das áreas de serviço, isoladas numa organização “burguesa” típica dos anos 60/70, nas áreas sociais da casa.

O apartamento existente tinha duas entradas: uma de serviço, ligada ao elevador de serviço, cozinha, lavandaria, quarto e casa de banho da criada, e uma entrada mais formal associada à sala de estar. Esta separação estava materializada numa série de portas e num espaço de circulação algo convencional.

O projecto promove a ligação e abertura deste espaço de circulação entre a cozinha e sala, num movimento mais fluido, sem portas. A introdução de um espelho grande, na transição entre estas duas zonas, acentua esta ligação, além de trazer a luz natural exterior para o núcleo interior da casa. A única separação é uma porta de correr que diminui o corredor existente em cerca de metade da área, e que faz o necessário isolamento acústico entre os quartos de dormir e os espaços de convívio.

Foram aplicados novos materiais de revestimento, dando mais conforto e detalhe a um projecto que, por se tratar originalmente de uma construção em série e sujeita ao tempo e a alterações pouco cuidadas, tinha algumas falhas evidentes. Houve cuidado em se manter o carácter dos detalhes existentes, especialmente nas carpintarias, sem impedir novas interpretações e o desenvolvimento dos mesmos.

Um pavimento novo em freixo, colocado em espinha, adapta-se à geometria de 45º já existente, e o Mármore Rosa Aurora Alentejano, reveste as áreas húmidas. Os detalhes das varandas foram recuperados e complementados com um deck em madeira escura.

O esquema de cores interior foi desenvolvido a partir das cores da aurora: mármore rosa claro, paredes cinza atmosférico, paredes e móveis de cozinha em azul claro.