TEMPO, ESPAÇO E LUGAR
Na casa do Cercal tempo e espaço não são dimensões separadas mas antes interdependentes.
Existe o tempo que corresponde aos ciclos da natureza, o tempo de quem habita o lugare existe o espaço que é moldado e influenciado por ele.
O lugar onde se localiza a casa é também de desafio - o Alentejo, que segundo Torga representa “o máximo e o mínimo a que podemos aspirar: o descampado dum sonho infinito e a realidade de um solo exausto”[1].
A Casa no Cercal é, assim, uma proposta que explora as possibilidades de um tempo e espaço novo, num lugar também ele marcado e alterado pela novidade da casa, ambicionando por fim construir um renovado compromisso entre homem e paisagem.
ESTRATÉGIA DE INTERVENÇÃO
Situada num terreno cuja morfologia em halfpipe é motivada por uma linha de água que o atravessa, a casa implanta-se numa das encostas que a ribeira divide, próxima dos vestígios de uma antiga construção.
A procura da posição e orientação solar certas, em paralelo com o estudo de uma volumetria de correspondência hábil com a pendente do terreno, a par da pesquisa sobre o horizonte visual que melhor favorece a sua relação com a envolvente natural, sintetizam as principais orientações da estratégia de intervenção.
Complementarmente o projeto procurou atender a outros princípios dos quais destacamos:
:: Recurso ao arquétipo da casa tradicional, como estrutura portadora de uma memória estável e como suporte de novas manipulações formais e interpretações espaciais;
:: Introdução de pátios como elemento potenciador de luz e reflexão no interior, produzindo simultaneamente uma duplicação de espaços exteriores de vocação mais intimista;
:: Distribuição funcional do programa considerando como principal eixo agregador e centralizador a área social onde se concentram os espaços de convivialidade, à volta do qual se organiza o restante programa de acesso mais restrito;
:: Intensificação da relação entre interior e exterior através do prolongamento da cobertura e da projeção de uma plataforma na continuidade do espaço social rematada por um plano de água (tanque);
:: Mediação entre o espaço interior e exterior através da introdução de um espaço de transição – o alpendre, reforçada simultaneamente pela introdução de painéis deslizantes que ora expandem ora confinam os limites da casa e do horizonte;
:: Recurso a sistemas construtivos locais e materiais tradicionais reinterpretados na lógica de uma intervenção contemporânea;
:: Uso predominante da cor branca em paredes e pavimentos em contraste com o “azul Alentejo” usado em elementos transitórios e leves com o portão de acesso à casa;
[1]citação extraída do Livro Portugal de Miguel Torga.