O centro de Brasília é uma das áreas mais estudadas e discutidas na cidade modernista. Um local privilegiado por sua localização geográfica, por suas atividades que são movimentadas e apropriadas pela população e pela monumentalidade criada pelo Lúcio Costa e composta por obras do Oscar Niemeyer, mas que ao mesmo tempo se mostra urbanisticamente umas das áreas mais degradadas da cidade. Sabendo disso o Debaixo do Bloco Arquitetura realizou um projeto experimental com o intuito de requalificar e reabilitar esse espaço,uma propostafeita com base em análises e pesquisas voltadas a escala humana, o fluxo do pedestre e a vida social -tanto de dia quanto à noite -, com o intuito de resgatar a sua função de núcleo urbano locada estrategicamentena Escala Gregária do Plano Piloto.
Nacidade setorizada e feita para os carros a Plataforma Superior da Rodoviária não é diferente, ela hoje destina sua área para bolsões de estacionamento, uma extensãoque anoite se torna inóspita e abandonada. Por isso o projeto começa com a retirada dos estacionamentos do centro da Plataforma, para assim transforma o trânsito de pedestre em uma circulação fluída e ainda induzir a apropriação da área pelos utilizadores. Os estacionamentos passam para o nível térreo nas áreas e acessos posteriores do CONIC, Conjunto Nacional, Teatro Nacional e Touring utilizando as vagas já existentes ao ar livre e a criação de estacionamento subterrâneo, assim ainda será possível chegar de carro já que o acesso se matem através desses edifícios que ligam verticalmente a Plataforma ao Eixo Monumental. Os estacionamentos das extremidades da Plataforma -ao lado das praças Sul e Norte -são mantidos, como opção de carga e descarga de produtos e também destinado a estacionamentos rotativos, um total de 256 vagas. Os números reduzidos que ligam diretamente o motorista a Plataforma é uma maneira de desestimular o uso do automóvel e que deve caminhar junto a propostas de melhoria do transporte público, como VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), criação de ciclo faixas seguras e melhores conexões de diferentes transportes públicos, por exemplo metrô | ônibus| bicicleta
“Zig e Zag” entre as Praças, talvez com a intenção de reduzir a velocidade dos veículos, já que esse é o sentido de maior travessia e caminho dos pedestres por conta CONIC e do Conjunto Nacional, porém as vias interrompem a passagem do pedestre na área central da Plataforma. A sensação de quem passa entre as vias e as calçadas é de estrangulamento. Sabendo disso, nesse projeto as vias cortam de forma direta o Eixo Norte/Sul, sem transpassar pelas Praças. Como medida de segurança semáforos e faixas de pedestres são colocados em três pontos que concentram um fluxo maior datravessia –Praça Sul/CONIC, Acesso a Rodoviária/Calçada Central, Praça Norte/Conjunto Nacional. A intensão e tornar a ligação entre os Eixos que acontece na Plataforma desestimulante para o motorista, assim induzindo ele a fazê-la pelo Buraco do Tatu, esse também seria a rota para os ônibus e obrigatória em dias de eventos e intervenções efêmeras produzidas na área.
Essas duas decisões deixam livre espaço central da plataforma para o pedestre. Sem interrupção de vias e estacionamento, a área ganha melhores condições de pavimentação, acessibilidade, instalação de novos equipamentos e novas funções que priorizam à passagem e o estar do pedestre. Essas modificações dão permeabilidade entre os espaços.
Com o objetivo de respeitar as ideias citadas por Lúcio Costa na elaboração do Plano Piloto e fomentá-las, as Praças Norte e Sul são mantidas e como interferência são instalados ao longo dos trajetos que ligam uma praça a outras estruturas em aço que lembram ilhas de convivência, fugindo do tombamento no quesito construtivo, mas indo ao encontro das ideias de trazer uma vida pulsante no Setor de Diversões e Plataforma da Rodoviária. Essas ilhas veem com o objetivo promover a sensação de lugar, abrigo e permanência das pessoas, aproveitando o fluxo já existente que antes era estrangulado pelos estacionamentos. Uma estrutura que sugere o uso e intervenções efêmeras, como feiras, festas, encontros gastronômicos, culturais e artísticos, atividades que possibilitam vida fora dohorário comercial e atividades noturnas, ou seja, um combate ao abandono.
“Sinto que há duas correntes, aparentemente contraditórias: uma, daqueles que acham o que o Plano Piloto é intocável; e outra, daqueles que, pelo contrário, entendem que a vida continua e que a cidade tem de ser reformulada de acordo com as novas necessidades. Não vejo contradição, porque é fato que o Plano Piloto, como dissera anteriormente, não foi concluído. E gostaria que isso ocorresse dentro das proposições originais. Depois, então, haveria oportunidade para novas formulações. Não impedirá que haja grandes inovações dentro da cidade, uma vez mantidos certos parâmetros, certos pontos já assinalados...” Lucio Costa, 1974“