Dividindo a vida entre Rio de Janeiro e Angola, o casal proprietário do Apartamento Terrazzo buscou o Studio Arthur Casas para desenvolver um projeto que funcionasse como morada para os momentos em que estivessem em São Paulo. Ela, chef de cozinha, e ele, apreciador de espaços amplos e contínuos, trouxeram demandas específicas que guiaram a definição do espaço, priorizando funcionalidade para o cotidiano, mobiliário assinado, protagonismo da arte, acabamentos minimalistas e alta tecnologia.
A definição das materialidades teve como ponto de partida a preservação do concreto aparente da laje original. Em diálogo com essa base, o Studio Arthur Casas definiu a busca por um piso que proporcionasse continuidade visual, sem interrupções. Assim, o piso Terrazzo foi escolhido como elemento central do projeto, unificando todas as superfícies da área social.
Tendo como referência o piso veneziano do showroom Olivetti – obra icônica assinada pelo arquiteto italiano Carlo Scarpa –, o Terrazzo desenvolvido exclusivamente para o apartamento adota uma composição cimentícia com fragmentos de mármore cortados e organizados em padrões geométricos ortogonais, criando uma estética de ritmo regular, mas intencionalmente imperfeita. A escolha por um revestimento artesanal e inédito reflete a busca constante do Studio por inovação, apostando em soluções ainda pouco exploradas no mercado nacional.
No mais, a definição criteriosa de materialidades reforça a essência contemporânea do projeto. A ilha gourmet em inox contrasta com a madeira da marcenaria minimalista, cujos painéis ocultam os eletrodomésticos e trazem visual uniforme. As infraestruturas de iluminação, som e automação foram acomodadas no forro, resultando na redução do pé-direito do ambiente; revestido na mesma madeira, o teto proporciona uma sensação de acolhimento. A compatibilização entre marcenaria e acústica foi extremamente minuciosa, de modo que apenas a espessura da lâmina de madeira reverberasse o som. Já na iluminação, predomina o conceito de ‘não-luz’: as luminárias são totalmente embutidas no forro, deixando espaço somente para a saída pontual de luz. Ao redor da mesa de jantar, as cadeiras Tucroma (4Mariani) em couro e metal são voltadas para assistir quem cozinha, proporcionando a chance de interação. Como pano de fundo, o quadro de Beatriz Milhazes traz pontos de cor ao ambiente, enquanto a arte espelhada de Anish Kapoor dialoga com os reflexos dos metais.
A curadoria de arte também ganha destaque na área social, com uma escultura de Túlio Pinto logo no hall de entrada e uma obra de Krajcberg exposta na parede principal do living. À sua frente, o Sofá Serpentine (Holly Hunt), a poltrona em vidro Ghost Armchair (Fiam) e as poltronas vintage do Liceu de Artes e Ofícios definem o primeiro ambiente, complementado pela Mesa lateral Ettore (Arthur Casas para Studio Objeto) e seu mármore colorido, além das mesa laterais em pedra vulcânica Lava Stone Tables (Maison Gerard). Na iluminação, foram selecionadas tanto luminárias de piso Lune Lamps (Ecart), quanto trilhos com projetores discretos, porém altamente potentes, que oferecem uma reprodução de cor extremamente fiel para valorizar as obras de arte.
A conexão com o home theater se dá pelo sofá modular ExtraSoft (Living Divani), que, com um lado mais profundo e outro mais estreito, é posicionado para atender ambos os ambientes. A TV, inserida em um painel de vidro espelhado, fica oculta quando desligada, mantendo o visual limpo e ampliando a sensação de continuidade. Para complementar, a dupla de Poltronas Karuselli (Artek) em tons caramelos e brancos assume posição de destaque no home theater.
A partir de uma alteração no layout original, um dos cômodos foi transformado em home office, funcionando como transição entre áreas sociais e íntimas. Com portas de correr, o espaço pode ser isolado para garantir privacidade e flexibilidade. Em posição central, a escrivaninha Jambu, assinada por Arthur Casas para Herança Cultural, é acompanhada pela Cadeira Pollock (Vintage Knoll). Sobre marcenaria off-white, um nicho embutido traz novamente a presença do Terrazzo, agora como revestimento na parede. Nele, esculturas em ferro corten de Osmar Dalio e cerâmicas de Kimi Nii e Akinori Nakatani complementam a ambientação.
Do escritório, é possível acessar a circulação que distribui o acesso direto para ambos os quartos. Neles, a materialidade do Terrazzo dá lugar ao piso em régua de madeira de carvalho europeu, escolhido para criar um ambiente mais acolhedor.
De um lado, se dá a entrada da suíte master, com uma escultura em madeira de Tunga. Com espaço generoso em tons terrosos, o ambiente traz closet duplo e banheiro com pias, chuveiros e vasos separados para maior privacidade. Destaque para os designs assinados Poltrona Delfino (Arflex) acompanhada pela Mesa 9 (Cassina), além de mesa de cabeceira Tupi, assinada por Arthur Casas para Etel.
Do outro lado, há uma segunda suíte destinada a visitas ocasionais da filha do casal, definida por uma parede repleta de fotografias de Terry O’Neill acima da cama, e mais peças de design em evidência, como o Cabideiro Perch (Nendo), escrivaninha Lurdes (Arthur Casas para Studio Objeto) e cadeira Tubo (Wentz).
Nos banheiros, o mármore Carrara reveste as superfícies das bancadas às frentes dos gabinetes, em um trabalho minucioso de compatibilização entre marcenaria e marmoraria. Os metais em grafite escovado complementam a paleta de veios acinzentados do mármore, criando uma estética coesa.
A tecnologia foi integrada de forma discreta em todo o apartamento, atendendo a uma das principais demandas dos clientes: automação, sensores de presença e iluminação planejados para se manterem "invisíveis" no ambiente. Esta última, sutil e predominantemente indireta, utiliza slots e projetores embutidos, reforçando o minimalismo como o fio condutor da proposta arquitetônica.
