A casa foi pensada como a busca de um novo modo de vida, longe da vida urbana, valorizando a paisagem ribeirinha do Rio da Prata. A exigência transcendeu a necessidade básica de viver, forçou uma reflexão existencial e assumiu uma dimensão experimental do projeto. As ferramentas adoptadas para o enfrentar foram as mais essenciais da disciplina: a eloquência do espaço, a austeridade dos recursos, a plasticidade do material, a gestão da luz, a síntese e a abstração.
O local impõe um percurso urbano antes do acesso que permite registar a coexistência de duas lógicas geométricas rotativas: o enredo do bloqueio, paralelo à costa do rio e o corte diagonal do percurso que nos dá entrada. A percepção do objeto arquitetônico é marcadamente dinâmica, sempre encurtada, evitando a frontalidade. A casa com suas quatro faces livres pode ser vista de vários pontos de vista, até mesmo do espaço público.
O “cubo”, fortemente condicionado pelas retiradas obrigatórias, é na verdade um prisma quadrangular de 9,40m x 9,40m e 6,60m de altura, e está localizado atrás do lote para otimizar a luz solar. O prisma abstrato abriga os espaços interiores e o semicoberto de expansão. A organização das aberturas que perfuram o recinto externo, não nos permite antever a complexidade espacial que nos espera ao entrar. Todo o espaço é organizado a partir de um novo sistema ortogonal girado em relação ao recinto.
Evitou-se consolidar o centro do quadrado, que subdividiria o espaço em quatro partes iguais e "ancoraria" ambas as geometrias uma à outra. Pelo contrário, o suporte central do mezanino está suspenso de forma que o rés-do-chão seja um espaço único. A vontade de liberar o piso térreo de suportes intermediários resultou em um desafio estrutural provocativo. O mezanino pende por meio de tensor central, na laje de cobertura. A cobertura tem dois níveis distintos e aloja uma viga de 24 x 80 cm no seu vão que transfere a carga para o recinto.
Em contraste com a complexidade espacial, a casa foi concebida como uma peça monomaterial de concreto aparente que expõe suas faces de forma plástica, tanto por dentro quanto por fora. Para isso, foi desenvolvido um sistema construtivo que permitiu a inclusão do isolamento na massa de concreto. A parede de envolvimento é composta por três camadas de concreto EPS (poliestireno expandido) de 8 cm, fundidas simultaneamente. A caixa iluminada em seu núcleo suporta confortavelmente seu papel estrutural, apesar da concentração de esforços envolvidos na resolução dos ângulos.
A definição do objeto não requer detalhe ou terminação, é intrinsecamente a estrutura. O prisma de concreto, portanto, sintetiza os desafios espaciais, materiais, estruturais e tecnológicos. Oculta um rico espaço interior cujas geometrias remetem aos cruzamentos de molduras que caracterizam a sua inserção urbana.