Já no briefing, nosso cliente se definiu um homem “muito convencional”, statement que conduziu nossas opções arquitetônicas, visto que pretendíamos vestir a família com esta morada, situada na aldeia de Ghouma, ao norte de Biblos, no Líbano.
Após passar alguns dias in situ, encantada com a diversidade cultural, decidi explorá-la, homenageando o modo de construir tradicional e os vários povos que deixaram sua marca na região
Cravada na montanha, a casa se desenvolve em três andares, que resultam em dois pátios sobre lajes.
As linhas dos muros de pedras catadas, empilhadas ao longo das curvas de nível, para definição de terraços agrícolas - jall, em árabe -, orientaram sua implantação.
O nível do kabou - abrigo para cabras construído com pedras locais não calafetadas, chão de terra e laje de barro com madeira - estabeleceu o ponto referencial, mas observando distância suficiente, que preservasse sua majestade.
Apesar de ter quase 1500 m² de construção, a casa apresenta somente duas fachadas, devido à forma de sua implantação, com respeito à montanha.
As plantas percorrem a encosta, resultando, no primeiro nível, as áreas de acesso e serviços; no seguinte, as áreas de convívio e dormitórios da família, e, por último, a ala para convidados.
Cada piso projeta sobre o inferior um pátio externo - herança fenícia - circundado por diwans, na forma de muretas periféricas. Esses pátios revelam as áreas externas e flertam com os vales ao norte, leste e oeste, expondo conventos, terraços agrícolas, pastos de cabras etc. Nos pergolados propostos para sombrear os pátios, buscamos inspiração das construções da planície da Beckaa, região de floresta, e o uso frequente de pau roliço.
A passagem dos franceses, tão influentes na arquitetura das casas libanesas do início do século XX, está representada pela telha francesa, de barro vermelho, utilizada na última cobertura. As colunatas superdimensionadas da galeria externa, resultante da projeção dessa cobertura, homenageia de forma singela os romanos, que também ali estiveram, há muito tempo, deixando marcas arquitetônicas espetaculares, entre elas, as ruínas de Baalbeck.