O projeto dessa padaria envolve um contexto peculiar. Os proprietários procuraram, em primeiro lugar, instalar o estabelecimento em algum ponto comercial alugado, naturalmente provido de infraestrutura para o funcionamento de uma padaria. Após tentativas frustradas de alugar um espaço, seja por problemas de documentação ou dissidências com locatário, tomaram a decisão de usar um imóvel da família, especificamente a casa dos pais dos proprietários, localizada em um bairro residencial na cidade de Limeira
Se por um lado, reformar um imóvel familiar é prático por não demandar aprovações de um terceiros, por outro lado, uma série de desafios construtivos surgiram da adaptação de uma residência de classe média em uma padaria, que fosse ainda funcional e atraente. Uma das premissas do projeto era impor as intervenções drásticas somente onde fosse necessário, de maneira a não encarecer demasiadamente a obra. Desse modo, concentramos as alterações de maior porte na parte frontal da casa. Uma vez que o recuo original não atendia o espaço necessário para vagas de veículo e tampouco a fachada era atrativa, comercialmente falando, foi proposta a completa demolição da parede frontal, sendo substituída por uma fachada totalmente nova, mais afastada da rua e diferenciada em termos de tratamento arquitetônico.
Demais ambientes internos foram, em diferentes escalas, adaptados de acordo com sua nova função. A cozinha da casa permaneceu como a cozinha da padaria, mantendo os acabamentos das paredes e o layout de bancadas e pontos hidráulicos. A suíte dos pais transformou-se em fornaria, através da supressão do banheiro e do aumento de capacidade da rede elétrica. A sala de estar e o quarto dos filhos transformaram-se no salão principal, contando com a substituição de acabamentos (sai o piso cerâmico, entra o cimento queimado) e demolições pontuais de paredes. A garagem passou a acesso sob novo pergolado e o recuo lateral virou o espaço aberto com mesinhas.
As novas estruturas, de reforço, fachada e pergolado, foram feitas em concreto armado e deixadas aparentes, de maneira a destacar os elementos arquitetônicos acrescentados e ressaltar uma ambientação mais rústica. Da mesma forma, as novas ligações elétricas foram instaladas externamente às paredes, através de eletrodutos pintados no próprio canteiro.
Voltando à fachada, o uso dos tijolos rústicos é uma inspiração que vem das casas antigas do interior de São Paulo, feitas em tijolo maciço. A extensa janela de vidro, projetada externamente à aba de concreto e complementada pelo balcão interno de consumo, funciona como uma espécie de varanda contínua, trazendo também um pouco do acolhimento e permeabilidade visual de certas casas rurais. Além do benefício estético à fachada, esse elemento busca criar um ambiente convidativo a partir da conexão visual direta entre rua e padaria, gerando uma cumplicidade benéfica entre transeuntes e consumidores.
Em tempos de autoenclausuramento das construções, e de um convívio cada vez mais escasso entre vizinhos, cidadãos, esse tratamento buscou ser um respiro de civilidade na rua onde a padaria se insere, retomando tempos de maior gentileza na cidade.