No local existia uma pequena ruína de pedra com três compartimentos e esta é a origem. Um compartimento passou a ser o hall de entrada, o outro a cozinha e o terceiro a sala de jantar.
O hall dá acesso ao corpo em madeira onde se localizam os quartos, a poente, e ao volume da ruína restaurada e integrada com o volume de betão da sala e biblioteca.
Os anexos e áreas técnicas fazem de muro de suporte, a norte.
O volume independente do estúdio e garagem, está ligado à casa por um coberto em estrutura de madeira.
A cobertura em ardósia unifica todos os volumes, acentuando o contraste com o volume cúbico e cobertura plana da sala.
A estrutura e revestimento de madeira são predominantes e caracterizam a massa volumétrica e organizativa.
A permanente presença desta obra no meu quotidiano – a minha habitação é vizinha desta – obriga-me a um constante exercício de reflexão, quase obsessivo, sempre absorvente.
Repenso a implantação e a relação com as pré-existências e o terreno.
Repenso as volumetrias e pergunto-me se, na sua diversidade, conseguem transmitir uma ideia de conjunto.
Repenso o uso dos materiais e sua hierarquia.
Repenso os pormenores e as ‘entradas de água’, inevitáveis em qualquer obra, mas solucionáveis.
Repenso as fenestrações e os sombreamentos, as texturas dos materiais e os acabamentos.
Repenso o uso dos espaços, as suas funções e as vivências que eles permitem ou impedem.
Repenso como será viver por dentro e também por fora.
Repenso como era quando, quase pronta, a visitava e como é agora quando me convidam para jantar, como é estar, como é tão banal e por isso mesmo tão especial.
Repenso como é interessante esta profissão.
Repenso que alterações faria, se me fossem pedidas, e se as deveria fazer.
Repenso o repensado, em constante exercício crítico.
Penso que a madeira foi bem escolhida e que a sua qualidade tem melhorado com o tempo.
Penso que as placas de ardósia da cobertura foram melhor solução do que a folha de cobre, mesmo que o resultado seja uma menor estanquicidade.
Penso que a qualidade não pode ser só técnica.
Penso que a técnica deve ser apenas a suficiente para garantir a segurança e funcionalidade da obra. Penso que sevive bem na casa e que os que a habitam estão identificados com ela e ela com o modus vivendi destes.
Ou será ao contrário?
Penso que a casa ganhou com o tempo e que o tempo ganhou com mais esta casa. Pelo menos o tempo dos proprietários e o meu…
Carlos Castanheira
Créditos:
Arquitecto:
Carlos Castanheira
Escritório em Portugal:
CC&CB, Architects, Lda.
Equipa de Projecto:
Maria Clara Bastai
Orlando Sousa
Engenharia:
Estrutura:
GOP – Engineering and Organization Projects, Lda.
Electricidade:
PROTEC –
Engineering Projects, Lda.
Constructor:
CONTRALEX, Lda.
Área de Construção:
358, 40 m2