Esta casa está localizada em um cenário bucólico onde predomina a vegetação verde e podem ser encontradas construções de pequena escala, espalhadas pelo terreno. Colinas sinuosas definem os limites, norte e sul. A casa foi construída sobre ruínas antigas, que, ao contrário desta nova casa, nunca tiveram a ambição de se erguer e contemplar os cumes dos montes ou a paisagem, sobretudo intocada pelo homem.

A nossa ambição era de alguma forma integrar a casa (pretendida para ser uma casa de férias) na morfologia do terreno, construindo-a em declives, aproveitando a paisagem e preservando a memória da casa pré-existente. A solução encontrada pretende ser a exceção entre as demais construções, mas de forma tranquila e circunscrita, onde a natureza e o que é construído pelo homem convivem em perfeito equilíbrio. Desde o início, era importante usar um material natural, que apelasse aos sentidos, mas ao mesmo tempo tradicional.

A utilização da madeira em muitos dos ambientes (nomeadamente numa construção tipicamente portuguesa chamada “espigueiro” que servia para armazenar grãos) inspirou-nos pela sua beleza simples e crua. Tornou-se o material privilegiado tanto para a estrutura como para os revestimentos, dentro e fora da casa, construindo uma linguagem própria que não se detém nas aplicações convencionais da madeira mas cria a sua própria poesia, inovadora e surpreendente.

No rés-do-chão, tanto a cozinha como a sala abrem-se totalmente para o jardim onde repousa um pequeno espigueiro de madeira, dialogando com o volume superior da casa, onde estão os quartos. Este volume, todo em madeira, foi pré-montado na carpintaria, trabalhado com perfeição, desmontado e remontado no canteiro de obras em tempo recorde, como se fossem peças de Lego.

No exterior, a delicadeza da madeira do piso superior contrasta fortemente com a aparência crua das paredes de betão do piso térreo. Dentro da casa cada detalhe de madeira foi cuidadosamente estudado, cada junta foi perfeitamente combinada, e as torções e voltas naturais da madeira são a única coisa que quebra aquela rigidez feita pelo homem com sua expressiva anarquia. Nos tectos a estrutura de madeira cria uma estranha sensação de conforto, ordem e paz. No final, apesar do design claramente contemporâneo, a casa responde plenamente ao imaginário do cliente, tornando-se o refúgio de madeira com que sempre sonhou.